sábado, 9 de agosto de 2008

Automobilismo como paixão e moda

Há duas semanas recebi uma mensagem de um cara, um ex-piloto, com algumas imagens anexadas. Ele recentemente ficou sabendo da existência desse espaço aqui por um amigo que mora em Nova York (Uau!!!). Dei uma olhada nas imagens, meio sem acreditar no que estava vendo. Respondi e logo depois, mais imagens. Incríveis, inéditas (para mim). Ele disse que a partir daquela ligação começou a ler o Blog desde o início e que não entendia como alguém poderia ser tão louco por coisas que sequer tinha visto, mas disse também que estava gostando muito de tudo isso.

As vezes sou tomado por uma ansiedade que atrapalha um pouco. Tinha a idéia de dividir na mesma hora com vocês tudo o que aquele baita "bota" tinha me enviado. Logo que respondi a primeira mensagem, perguntei a ele: "é verdade que tu correste também na Super V?" 20 minutos depois via, abobado, na tela do meu computador, aquela imagem que publiquei como sendo o último Desafio da Semana. Caramba!!! A resposta dos blogueiros foi imediata e certeira.

Era 1975.
Era um Kaimann.
Era em Cascavel.
Era o Antônio João Freire!

Desde então venho falando com o "Janjão", perguntado algumas coisas sobre a trajetória dele nas pistas, coisa e tal. Ele me falou que nem ele lembra ao certo quando iniciou no automobilismo. Lembra apenas que foi antes da inauguração do Tarumã, em uma prova em Florianópolis com chão batido, em dupla com o Moacir Rosemberg num "fuquinha". Coincidência: dia desses o Rogério Monteiro me disse que também participou da mesma prova em Floripa, as "4 Horas", que foram disputadas em 1969. "Janjão" e Rosemberg chegaram em segundo lugar na categoria.

"Janjão" se empolgou com essa história do Blog e lembrou de um tempo que, para ele, andava meio esquecido. De um tempo em que o automobilismo era paixão e moda. Vocês já imaginaram um carro de corridas passear por Porto Alegre, sem precisar da ajuda dos "azuizinhos" ou sem ser pego pelos mesmos? Pois isso acontecia na década de 70. Os mais "rodados" devem lembrar. "Janjão" lembrou por exemplo do Fernando Esbróglio passeando com o Fusca dele, com o capacete pendurado no Santo Antônio, descarga aberta, em frente ao Colégio Bom Conselho, na saída das aulas, ao meio dia. Fazia "o" sucesso, disse ele. As menininhas antes de se interessar por você, perguntavam se você tinha carro. Se corresse de carro então... e se fosse bom, nossa...

"Janjão" correu por quase quinze anos. Acumulou títulos, vices e muitas vitórias. Venceu e perdeu campeonatos por detalhes em uma época de muitas disputas nas pistas e fora delas. Passou pelo kart, Divisão 1, Divisão 3, Divisão 4, Fórmula Super V, Copa Fiat 147 e Brasileiro de Marcas e Pilotos. Além deste post pretendo publicar mais alguns nos próximos dias com imagens históricas e histórias que me foram contadas pelo próprio "bota".

As corridas apareceram na vida de "Janjão" por causa do pai. Quando jovem, os amigos dirigiam aos 16, 17 anos, o automobilismo era uma febre entre os jovens, mas o pai não permitia que ele fizesse o mesmo. Esperou para poder dirigir até os 18 anos, ensinado pelo próprio pai. Mas o "professor", enfurecido com as barbeiragens do aprendiz, dizia que ele nunca conseguiria dirigir. Tornar-se um piloto foi uma espécie de "vingança" contra o pai. O mais interessante nessa relação pai e filho é que mesmo não aprovando a participação nas corridas, a cada aparição de "Janjão" em uma matéria de jornal, o pai guardava tudo muito bem organizado em pastas que nesses últimos dias foram novamente manuseadas pelo ex-piloto. São cerca de 20, me disse ele. O automobilismo gaúcho, bem como uma enormidade de fãs, agradecem.

Conforme já registrei, o início da carreira foi em Florianópolis em 1969 e logo em seguida haveria uma prova de 500 km em Joaçaba, da qual saiu vencedor fazendo dupla com Régis Schuch. Entre outras provas naquele tempo, marcou presença na inauguração do Tarumã, competindo na Classe A com o Fusca #47, chegando em sétimo lugar. O #47 o acompanharia por quase toda a carreira e era raro vê-lo guiando algum carro próprio sem o tal #47. Um exemplo raro será visto mais abaixo.

A Divisão 3 foi o foco do piloto nos primeiros anos. Era a categoria mais badalada, que dava o maior retorno, algo como a Stock Car de hoje. "Janjão" corria patrocinado pela Rádio Continental 1120. Entre 1971 e 1974 disputou provas do Campeonato Gaúcho, Brasileiro e até algumas provas em Rivera, vencendo muitas delas. Ainda naquele período participou de uma etapa do Campeonato Brasileiro de Divisão 4 de 1972 em Tarumã com um protótipo Jamaro-Crysler (alguém sabe que carro era esse?). Nas provas longas teve como parceiros o Fernando Esbróglio, Luís Gustavo Tarragô de Oliveira ("Sapinho"), José Luiz De Marchi, Renato Conill, João Roberto Schimidt ("Schimitão"), Joaquim Fonseca, entre outros. Na prova de 500 km que venceu em Rivera (dividida em baterias) correu sozinho e saiu vencedor, mas vou falar mais dessa prova em breve.

Em 1975 "Janjão" partiria para uma categoria que foi a sensação do automobilismo brasileiro e um celeiro de novos talentos. Mas isso é assunto do post da próxima Segunda. Aguardem.

Abaixo uma série de boas imagens do início da carreira de "Janjão" até 1974.

Na sequência: no kart, em 1971 no #74 (#47 investido para não fugir muito à regra...), disputando posição com um grande rival (no kart #12) do tempo dos Fiats, que vocês certamente saberão quem é pelo tamanho do "guri". Mais abaixo várias de 1974 na Divisão 3 com o Fusca preto preparado pelo Carmelo Carlomagno em meio a disputas com Raffaele Rosito, Maurício Rosemberg, Cláudio Mello, entre outros. Depois os Mavericks, ainda em 1974, em uma prova da Divisão 1 no #47, depois no #91 quando venceu a Taça Souza Cruz, prova de seis horas em parceria com "Schimitão" e De Marchi. Encerro este post com a vitória com o mesmo carro, que pertencia ao "Schimitão", mas agora nas 12 Horas de Tarumã que teve ainda a participação do futuro parceiro na equipe Jardim Itália, Renato Conill.

Fonte das imagens: arquivo "Janjão" Freire, livro 12 Horas, arquivo Júlio Cordeiro.

11 comentários:

Anônimo disse...

Este "Janjão" Freire também foi um baita piloto. A prova dele em Joaçaba foi em 24/08/69, com vitória na categoria 1301 a 1600cc junto com Régis Schuch aqui de Passo Fundo. Me surpreendi que ele tenha feito uma prova com o protótipo Jamaro no Tarumã; porque pouquíssimos conheceram este carro feito em 1970 pelos irmãos Amaro do RJ que também fabricaram os Fórmula Jajá Vê. Acontece que esse protótipo testou e usou no Rio uma verdadeira jóia mecânica que é dois motores VW unidos transformando-o num boxer 8 cilindros e este motor está comigo no Fusca Jamaro aqui do Museu do Automobilismo Brasileiro. Aprofunde mais o contato com o Janjão porque ele correu em muitas categorias.
Paulo Afonso Trevisan

Anônimo disse...

Ah! Esqueci de dizer que o "Janjão" Freire no ano seguinte em Joaçaba 21/06/70, foi 2º na geral com seu VW 1600 e junto com Fernando Esbroglio. Essas estatísticas foram recém instaladas no site do Museu www.museudoautomobilismo.com.br
Paulo Afonso Trevisan

Anônimo disse...

Aí Sanco
Vc colocou as fotos dos carros q eu mais gostava. O "fuscão preto" do Janjão, a "brasa" do Rosito e o 73 promovido p/ a cat.1600 do Rosenberg. Ah, sem esquecer o "maveco" do Schimitão q eu sempre via andando na rua.
Todos feras q levantavam a torcida com sua manobras espetaculares.
Feliz dia dos pais à todos.
Abs
Júlio

Anônimo disse...

Mas que bom que o Paulo Trevisan (Museu do Automobilismo Brasileiro) lembrou da prova de Joaçaba em que fui 2o. como co-piloto do Janjão ! Eu nem lembrava da data.
Janjão foi e é um cara extremamente determinado e competitivo, até hoje, continua nas pistas como...maratonista, a pé... segue "correndo" , portanto.
Foi uma época muito intensa da minha vida e Janjão esteve envolvido por várias "razões"...
Tenho certeza de que Antonio João Barnewitz Freire mediante sua disciplina física, sua vontade de vencer e sua competência como piloto é um dos que poderia ter feito boa figura da Europa daqueles anos 70.
Abraços.
Fernando esbroglio

Anônimo disse...

Pois o Janjão foi tentar a Europa no início dos anos 80. O Laerte e o Jorge Kunzler, diretores da Jardim Itália, enviaram o Janjão para uma pós-graduação no automobilismo europeu. Não se sabe ao certo no que deu, mas Janjão voltou e continuou no automobilismo brasileiro. Na época o mecânico da Jardim Itália era o Mário Rambo (quem lembra dele, e onde anda).
Luiz Borgmann

Mestre Joca disse...

Ôpa,
Me desculpe a pretensão, mas como disse o mestre Trevisan, sou um dos pouquíssimos que ouviram falar - tinha até uma foto que perdi ao longo dos anos - do protótipo Jamaro bimotor VW, fetio pelos irmãos cariocas Jair e Jairo Amaro.
Não existem fotos conhecidas do carro, caso o Janjão tenha alguma, por favor, poste logo, será uma raríssima "mosca blanca" do nosso automobilismo!

Anônimo disse...

Aquele do kart 12 na certa é o Soldan, raridade ver ele no kartismo. Certa feita ele ia pelas ruas dirigindo o seu Chevette de corrida vermelho n° 10, abarrotado de pneus, sem parachoque nem nada, pronto prá pista, em direção ao Tarumã, no dia da prova. Saudades daquela época, ninguém vinha encher o saco...
Luiz Borgmann

Anônimo disse...

O JOAQUIM,um dos sujeitos que mais sabem do automobilismo histórico brasileiro,está acessando e opinando no blog do Sanco! VIVA! Aqui está vindo muita informação preciosa da gauchada,e só tende a crescer este resgate!Para variar até do projeto Jamaro você sabia. Tomara que Janjão ou outro entusiasta tenha foto do mesmo.PAULO AFONSO TREVISAN

Anônimo disse...

Me ocorreu agora de dizer ao grande Fernando Esbroglio(que é frequentador do blog)que nos próximos dias enviarei ao Sanco um conjunto excepcional de fotos daquela prova aqui em PFundo em 29.09.68 cat.B ;de você no VW#10,e outras feras do naipe do Muller, Friedrich e outros. PAULO AFONSO TREVISAN

Leandro Sanco disse...

Grande Trevisan! Desculpe a demora no retorno. O Blog está me tomando muito tempo, proporcionalmente ao prazer que está me proporcionando!!!
Aguardo teu material!

Clóvis Irigoyen disse...

Essa coisa de os carros de corrida irem andando para o autodromo sou testemunha, certa feita is de carona com Enio Sandler no seu Galáxie dourado, quando maliciosamente na estrada de acesso a Tarumã fechou um pequeno pega com Pedro Pereria, que ira rodando. Claro, de brincadeira como ele pois não teria menor chance, fora as lembranças do velho Asmuz correndo de calça Tergal e sapato social....