terça-feira, 19 de agosto de 2008

"Vamos triturar a Jardim Itália."

Essas eram as palavras do folclórico piloto paulista Attila Sipos, integrante da equipe Milano/Jack in the Box/Castrol antes da abertura do Campeonato Brasileiro de Fiat 147 de 1980. Attila e o seu companheiro de equipe, Luís Otávio Paternostro se tornariam os maiores rivais dos carros vermelhos da Jardim Itália, pois o campeão da temporada anterior, Walter Soldan, decidira se transferir para a categoria Divisão 3 com um Fiat 147 turbo.

Até a quarta etapa, de 11 previstas, "Janjão" Freire era o líder da competição nacional, mas uma sequência de problemas, iniciados na terceira etapa em Tarumã, acabou fazendo com que o piloto perdesse a chance de conquistar o título daquele ano. Mesmo assim foi novamente o vice-campeão, atrás de Paternostro.

Sobre essa etapa de Tarumã, disputada no dia 8 de Junho daquele ano, eu já falei aqui. Ficou marcada na memória de muitos como um dos mais espetaculares acidentes ocorridos na história do autódromo de Viamão. Eu já tinha lido muito a respeito, visto registros dos jornais da época, mas nunca tinha visto o vídeo daquele acontecimento, muito menos ao vivo, pois na época eu tinha pouco mais de três anos de idade.

Pois na última semana tive o prazer de fazer uma visita ao nosso ilustre personagem que me recebeu dizendo que tinha conseguido um material especial e que eu iria adorar ver. Em seguida colocou um DVD e apareceram as imagens da prova, transmissão feita pela TV2 Guaíba, que naquela época cobria quase todas as provas que passavam pelos autódromos gaúchos.

CARAMBA!!!!!

De cara o grid: Attila, Pater, "Janjão", Aroldo, Pilotto, Conill, "Castrinho", Fornari, Romano e Troncon, os dez primeiros mais outros tantos feras daquela época.

Quase não acreditei, mas ok, vamos lá, pois já vão largar. Dada a largada se formou um trem com cerca de dez carros. Incrível! Um colado no outro, mas logo em seguida os três primeiros se destacaram dos demais e começaram a travar um duelo impressionante que durou quase toda a primeira bateria. E eu perguntando ao "Janjão": é agora? É agora? Não era. Ele me disse que o vôo se deu na segunda bateria. Relaxei. Por poucos segundos. Attila teve um pneu furado no final caindo lá para trás, deixando os dois na briga pela ponta. Última curva, lá vem Pater e "Janjão" que saíra mais forte da 9 e parece que vai passar e vencer! Atenção! Pater não dá moleza! Ops, os carros se tocam! Ai ai ai.

Os pilotos conseguiram alinhar os carros e Pater, com a porta traseira aberta cruza a linha de chegada com "Janjão" em segundo. Ufa...

Ok, segunda bateria. Vai ser em instantes. Relax...

Largaram. Impressionante. Esses carros viravam 1min27 e alguma coisa, mas não deixavam por menos no quesito disputa. "Janjão" vinha na ponta, com Pater colado nele. Attila estava lá atrás, mas vinha na recuperação. Depois de umas quatro voltas, os três novamente estavam juntos. Cara, como o vácuo funcionava! Num piscar de olhos os dois Fiats da Milano de novo na ponta. Putz...

"Janjão" tentava voltar para a liderança, vindo por fora, por dentro, por cima, tentando de tudo e nada. Que caras mais "encardidos"!

A sua chance seria na curva 1, tentando usufruir do vácuo. 12ª volta. Lá vem eles. Ele se joga para dentro da 1. Pater vinha mais forte por fora e fecha a porta!

"Janjão" começa a perder a traseira! Opa, opa!!

O carro aponta em direção ao guard-rail, trava as rodas e...

...o resto todo mundo já sabe. Fiquei de boca aberta. E o protagonista daquele momento estava alí do meu lado. É mole? Que momento...

"Janjão" também teve problemas no Campeonato Gaúcho e acabou o campeonato apenas em quarto lugar, com o título ficando para Antônio Fornari, com Aroldo Bauermann em segundo e Conill em terceiro. Mesmo assim, foi o gaúcho que mais se destacou nacionalmente, vencendo o maior número de provas e certamente ocuparia o primeiro lugar num ranking de pilotos se esse existisse. Venceu três provas do campeonato nacional, mesmo número do campeão, fez quatro pole positions, uma a mais que o campeão. No regional, fez cinco poles de seis provas disputadas, mas venceu apenas uma delas. Em todas as dezoito provas disputadas esteve sempre na briga pela liderança e em apenas uma delas não provou o gosto de liderar um número expressivo de voltas.

Abaixo uma sequência de belas imagens que registraram os inesquecíveis duelos entre aqueles simpáticos carrinhos. Certa vez li que essas provas eram a alegria dos chapeadores (funileiros), pois emprego não faltava.

Amanhã a continuação da retrospectiva do Antônio João Barnewitz Freire nas pistas.

Fonte das imagens: Anuário Fiat, arquivo "Janjão" Freire, com imagens da TV2 Guaíba.

11 comentários:

Mauricio Morais disse...

Rapaz que sequência de fotos emocionantes. Show, parabéns.

Anônimo disse...

essa época foi tão legal que a BRINQUEDOS ESTRELA lançou um autorama de FIAT 147.
curiosamente um deles era vermelho.
Claro que eu, com 11, 12 anos, dei um jeito de garantir o meu.
Um abraço, Leandro.
Giancarlo Gasparotto

Anônimo disse...

Muito legal essas corridas...meu pai me levava pra ver, me lembro bem desse acidente.Onde posso conseguir esse video?

Leandro Sanco disse...

Boa noite, turma! Esse post foi muito legal de escrever. Muito especial, pois além de falar sobre um cara que foi meu ídolo no tempo de piá, tive a oportunidade de pegar clicar imagens do vídeo da prova. Eu ainda estou engatinhando nos vídeos, mas fiquem tranquilos que em breve publicarei ele no YouTube. Vocês ficarão sabendo em primeira mão aqui pelo Blog.

Gian, me lembro bem desse autorama. E me lembro também dos Fiats que a mesma Estrela fez, mas numa escala bem maior (tipo 1:18) com o bombeiro, ambulância e um amarelo que não me lembro o que era. Eu tinha um "vermelho" e achava muito chato aquele motorzinho girando embaixo do carro (bate e volta). Arranquei fora, tirei os páa-choques, adesivei a barata e a partir daí a brincadeira começou a ficar legal. Coisas de guri mesmo. Como era bom aquilo.

Agradeço a visita de todos.
Leandro Sanco

André Stein disse...

Quero um dvd desse aí... :o)

Anônimo disse...

Ôi
Alguém sabe se na capotagem ele chegou a pular a tela que separa a pista da área do público?
Abs
Júlio

Leandro Sanco disse...

Júlio, ele caiu exatamente naquela estradinha que dava acesso às curvas 3 e Laço, que hoje, infelizmente, não existe mais. Foi muita sorte não haver ninguém passando alí naquele momento, pois senão a história podia ser bem diferente.
No post que mostrei imagens do jornal da época. Tem o link nesse próprio post, dá pra ver exatamente a posição na qual o carro ficou.
Abraço,
Leandro Sanco

Niltão Amaral disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Niltão Amaral disse...

Bah! Eu tinha um 147 ambulância com aquele motorzinho que ficava girando embaixo.

Eu também achava uma m* aquilo, afinal, gostava de ver os carros andando em linha reta, e rápido, e não em círculos. Hehehe!

Depois disso apareceram aqueles carros de plástico imitando os nacionais (Fiat Uno, Monza, Escort - quem era piá da época sabe do que to falando.). O lance era colocar canudo como cano reto, cortar pra rebaixar, colocar alfinetes como antena de teto, e colar partes de revistas da época (sinaleira, farol, pisca) para dar realismo ao carro! hehehe!

A propósito, estou com o DVD da corrida do Janjão aqui! Eu tinha menos de um ano na época, mas meu pai me conta essa história há muitos anos! hehehe! Eles chegaram lá embaixo bem antes da ambulância e meu primo estava com ele e pegou um pedaço da sinaleira do carro do Janjão!

Marcelo Pacheco #49 disse...

Eu ainda tenho o meu 147 de bombeiro na caixa e em perfeito estado de funcionamento (tenho foto no meu facebook. Está numa estante que só eu limpo, junto com outro carrinhos.
Onde conseguimos um dvd desse? Nao pode colocar no you tube essa corrida? eu imploro rsrsr

rogério santos dos santos disse...

parabéns pela sequ~encia de fotos sempre ouvi falar dessa capotagem do janjão mais nunca tinha visto as fotos muito boas por sinal..............